Como o Brainspotting ajuda o cérebro a se curar e por que é importante entender isso

Você já sentiu algo tão intenso que nem conseguiu explicar direito? Como se algo lá dentro estivesse tentando resolver um problema, mas você não soubesse por onde começar?

O Brainspotting é uma técnica terapêutica que atua exatamente aí: nas camadas mais profundas do seu cérebro, onde palavras não dão conta, mas o corpo e as emoções falam alto.

Neste artigo, quero te mostrar como essa abordagem funciona de um jeito simples e direto. Também vou explicar por que entender como o seu cérebro reage durante uma sessão de Brainspotting pode fazer toda a diferença no processo de cura emocional.

O que é Brainspotting?

Brainspotting é uma técnica terapêutica criada pelo psicólogo David Grand. A ideia é simples: o lugar para onde você olha pode influenciar o que sente.

Pode parecer estranho no começo, mas pense assim: quando você está muito emocionado ou lembrando de algo importante, é comum que seus olhos naturalmente se direcionem para um ponto específico.

No Brainspotting, o terapeuta ajuda você a encontrar esse ponto de olhar – chamado de brainspot – e, a partir dele, o seu cérebro começa a trabalhar sozinho para processar e liberar aquilo que está guardado lá dentro.

O seu cérebro tem um “bebê gênio” dentro dele

Uma parte muito interessante do processo de Brainspotting é que ele envolve algo que o autor chama de “bebê gênio” do cérebro.

Esse “bebê gênio” é aquela parte da sua mente que adora aprender, fazer conexões, entender como as coisas funcionam. Ele é curioso, como uma criança que quer saber tudo o tempo todo. Mas também se distrai fácil e perde o interesse se você for muito racional ou técnico demais.

Por isso, durante a sessão, o terapeuta pode explicar o que está acontecendo de uma forma bem simples e envolvente. Assim, o cérebro pensante (o chamado córtex) se acalma, entende melhor o processo e colabora com as partes mais profundas e emocionais do cérebro – aquelas que realmente guardam os traumas, memórias e sensações que precisam ser curadas.

“Observe para onde sua mente vai”

No Brainspotting, não é você quem controla o que vai acontecer. Você apenas observa.

É como assistir a um filme interno. Ao fixar o olhar em um ponto específico, sua mente começa a mostrar imagens, memórias, sentimentos ou sensações físicas. Você não precisa entender tudo de imediato. O importante é deixar o processo acontecer, sem tentar forçar nem bloquear.

Pode parecer confuso no começo, especialmente porque estamos acostumados a resolver tudo com lógica. Mas o cérebro profundo – aquele que sente mais do que pensa – sabe o que fazer, mesmo que você ainda não consiga explicar.

“Não reaja às suas reações”

Durante a sessão, é comum que algumas emoções fortes venham à tona. E tudo bem.

Algumas pessoas acham que estão “fazendo errado” porque ficam confusas, sentem desconforto ou até vontade de desistir. Mas isso faz parte do processo. Na verdade, é justamente aí que está a chance de cura. O importante é observar com curiosidade, como se você estivesse descobrindo algo novo sobre você mesmo.

Essa atitude de não julgar o que está sentindo é uma das chaves do Brainspotting. Em vez de resistir, você aprende a escutar seu corpo e suas emoções como se fossem mensagens importantes – e são.

A importância de medir o que mudou: SUDS

No início de uma sessão, o terapeuta geralmente pergunta: “O quanto isso é perturbador para você agora? No final, faz uma comparação, perguntando: “Com o que isso se parece agora?” ou “Como seu corpo sente isso agora?”

Essa é a hora em que o cérebro mais racional começa a entender o que aconteceu. Um jeito comum de medir essa mudança é usar uma escala chamada SUDS – que vai de 0 (nenhum desconforto) a 10 (desconforto máximo).

Por exemplo, alguém começa a sessão sentindo um nível 9 de angústia. Após focar no brainspot e deixar o cérebro profundo trabalhar, esse número pode cair para 3. Mesmo que a pessoa não saiba explicar por que isso aconteceu, ela sente a diferença. E isso é o que importa.

Aprender sobre o cérebro também cura

Muita gente acha que só “sentir” já é suficiente no processo terapêutico. Mas entender como seu cérebro funciona pode ser um grande aliado. Quando o cliente compreende que aquilo que sente tem uma explicação – que o cérebro não está “quebrado”, mas apenas reagindo a experiências passadas – surge um alívio. Um tipo de paz.

Por isso, alguns terapeutas usam imagens, modelos e até sites infantis (sim, os mais simples são os mais eficientes!) para mostrar como o cérebro se organiza e se transforma. Saber disso traz segurança e empodera. A pessoa deixa de se sentir “errada” e começa a entender que tem um sistema interno inteligente, capaz de encontrar seu caminho para a cura.

Conclusão: o cérebro é profundo, mas você pode confiar nele

O Brainspotting nos ensina que nem tudo precisa ser explicado para ser transformado. Ao dar espaço para o cérebro profundo agir, a cura começa a acontecer de dentro para fora. E quando o cérebro racional entende isso, previamente, tudo começa a fazer mais sentido.

Sou Daltro Feil, psicanalista com 25 anos de experiência e um entusiasta das terapias de reprocessamento. Neste blog, o Quinto Caminho, compartilho reflexões e descobertas que venho reunindo ao longo da minha caminhada, especialmente sobre o sofrimento humano — suas origens, seus sentidos e as possibilidades de transformação que ele pode esconder.